Este é uma tema que me aflige cada vez mais... principalmente porque depois de ter constatado esta realidade fiquei mais desperto para ela e sucessivamente em situações de cancro e não só, vejo cada vez mais pessoas deixarem que outros tomem as suas decisões.
Os que me conhecem sabem que costumo ser eu a tomar as minhas decisões mesmo que muitas vezes antes de as tomar possa ou não pedir o conselho de outros ou de os ouvir quando mesmo quando não solicitados e também não é raro mudar a minha decisão porque os conselhos ou as opiniões de outros foram suficientes para mudar de rumo, mas mesmo com todas essas interferências não deixam de não serem as minhas decisões…
Um destes dias foi necessário tomar uma decisão respeitante a um novo tratamento (radiocirurgia) bastante dispendioso o qual poderia ultrapassar o plafond do meu seguro de saúde, ainda que o montante não coberto não fosse muito elevado e portanto ainda comportável para a minha situação financeira. A medica virou-se para mim e para a minha mulher e disse: - É possível que possa ultrapassar um pouco o plafond do seu seguro, não muito..., nesse caso, posso avançar? eu rapidamente disse-lhe que sim, que não havia problema, mas isto não foi suficiente para ela, então vira-se para a minha mulher e perguntou novamente se havia algum problema, a minha mulher acenou com a cabeça que sim pois eu já tinha respondido e o assunto era meu…. estranhamente não foi o suficiente para a medica sossegar, pois voltou a perguntar única e exclusivamente à minha mulher… e só parou quando ela disse um "claro que sim" bem explicito…..
Eu fiquei pura e simplesmente embasbacado a ver até onde ia a situação pois a doença era minha e dado não ser uma soma muito elevada não conseguia perceber porque tinha ela que definitivamente obter a aprovação da minha mulher….
Escusado será dizer que o tratamento foi feito e por acaso acabou por ficar dentro plafond e esta questão nem sequer se chegou a colocar… Mas ficou para sempre a imagem de não ser eu a tomar a decisão que a mim exclusivamente me pertencia…. depois disso passei a andar mais atento e de facto conclui que sim, que este tipo de situações é muito mais corrente do que possamos imaginar… e não só na doença… mas principalmente nela…
Normalmente e isto é comum, o doente oncológico raramente vai sozinho ao hospital ou às consultas, (no meu caso raramente vou acompanhado por isso este tipo de situação nunca me tinha acontecido) e entre o medico e o acompanhante, ou cuidador, estabelece-se uma espécie de pacto de boas intenções no pressuposto que o acompanhante será a pessoa mais bem habilitada para tomar decisões… daí que muitas vezes nem perguntam ao interessado (doente) o que ele acha… passam logo ao pacto de boas intenções e falam com o acompanhante, os benefícios, as desvantagens, a parte financeira e tudo o que for objeto de decisão…
Eu fiquei pura e simplesmente embasbacado a ver até onde ia a situação pois a doença era minha e dado não ser uma soma muito elevada não conseguia perceber porque tinha ela que definitivamente obter a aprovação da minha mulher….
Escusado será dizer que o tratamento foi feito e por acaso acabou por ficar dentro plafond e esta questão nem sequer se chegou a colocar… Mas ficou para sempre a imagem de não ser eu a tomar a decisão que a mim exclusivamente me pertencia…. depois disso passei a andar mais atento e de facto conclui que sim, que este tipo de situações é muito mais corrente do que possamos imaginar… e não só na doença… mas principalmente nela…
Normalmente e isto é comum, o doente oncológico raramente vai sozinho ao hospital ou às consultas, (no meu caso raramente vou acompanhado por isso este tipo de situação nunca me tinha acontecido) e entre o medico e o acompanhante, ou cuidador, estabelece-se uma espécie de pacto de boas intenções no pressuposto que o acompanhante será a pessoa mais bem habilitada para tomar decisões… daí que muitas vezes nem perguntam ao interessado (doente) o que ele acha… passam logo ao pacto de boas intenções e falam com o acompanhante, os benefícios, as desvantagens, a parte financeira e tudo o que for objeto de decisão…
Acredito que na grande maioria das situações é o próprio doente a afastar-se e a alhear-se das decisões e outras asserções relativas à doença e aos processos inerentes mas também acredito que a boa intenção dos acompanhantes/cuidadores também os leva muitas vezes a substituir-se ao doente e a tomar as decisões que a ele lhe caberiam de uma forma quase inconsciente, apenas a vontade de ajudar o outro é o motor deste comportamento, mas também existem muitas situações em que os acompanhantes/cuidadores tomam as decisões dos doentes em plena consciência que estão a substituir-se ao outro e muitas vezes tomam decisões contrárias às opiniões dos doentes porque acham que eles é que sabem o que será o melhor para os seus doentes…
Enfim, não acho que seja um cenário bonito mas é a realidade principalmente para as pessoas da minha geração e anteriores, não deveria ser assim… mas muitas vezes são os próprios doentes os responsáveis…. e no caso dos homens, é quase um senso comum que é a mulher que vai a consulta com o marido, discute com o médico, faz todo o tipo de perguntas, substitui-se descaradamente ao marido quando chega a hora de tomar as decisões ou então manipula das mais variadas maneiras o seu doente de forma a que ele tome a decisão que ela acha correta… e meus amigos feliz ou infelizmente, a maioria dos maridos delega alegre e felizmente toda a sua responsabilidade na sua companheira… não sei se isto é bom ou mau…. afinal quem sou eu para julgar seja o que for? Só sei que este comportamento está tão arreigado que leva os próprios médicos a procurar a opinião da acompanhante pois parece que a decisão não fica bem tomada se não tiver o consentimento da esposa….
Enquanto eu puder, eu espero conseguir tomar todas as minhas decisões, posso consultar as pessoas que me são mais chegadas como a minha mulher ou outros mas faz parte da minha forma de me manter vivo e interessado tomar as decisões que me dizem respeito!
Não me parece que se consiga viver a vida em pleno deixando as nossas decisões para outros! e se não conseguirmos viver a nossa vida em pleno, qual o sentido de toda esta luta?
Enfim, não acho que seja um cenário bonito mas é a realidade principalmente para as pessoas da minha geração e anteriores, não deveria ser assim… mas muitas vezes são os próprios doentes os responsáveis…. e no caso dos homens, é quase um senso comum que é a mulher que vai a consulta com o marido, discute com o médico, faz todo o tipo de perguntas, substitui-se descaradamente ao marido quando chega a hora de tomar as decisões ou então manipula das mais variadas maneiras o seu doente de forma a que ele tome a decisão que ela acha correta… e meus amigos feliz ou infelizmente, a maioria dos maridos delega alegre e felizmente toda a sua responsabilidade na sua companheira… não sei se isto é bom ou mau…. afinal quem sou eu para julgar seja o que for? Só sei que este comportamento está tão arreigado que leva os próprios médicos a procurar a opinião da acompanhante pois parece que a decisão não fica bem tomada se não tiver o consentimento da esposa….
Enquanto eu puder, eu espero conseguir tomar todas as minhas decisões, posso consultar as pessoas que me são mais chegadas como a minha mulher ou outros mas faz parte da minha forma de me manter vivo e interessado tomar as decisões que me dizem respeito!
Não me parece que se consiga viver a vida em pleno deixando as nossas decisões para outros! e se não conseguirmos viver a nossa vida em pleno, qual o sentido de toda esta luta?
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