terça-feira, 20 de março de 2018

Sunitinib - Um bloqueador de angiogénese


Depois de regressar dos Pirineus finalmente iniciei os tratamentos, tratava-se de um comprimido tomado diariamente durante um período de 4 semanas e paragem de 2 semanas para o corpo poder libertar a toxicidade - o principio ativo é o sunitinib e o nome da marca é Sutent.

Todos os medicamentos para o cancro geram enormes quantidades de toxicidade no corpo, desde as quimioterapias convencionais, radioterapia, bloqueadores de angiogénese e imunoterapias... 

O medicamento com que iniciei o tratamento, é um bloqueador de angiogenese, o que em linguagem simples quer dizer que é um medicamento que impede o tumor de aumentar as raízes, levando no caso de ser eficaz à sua redução ou mesmo erradicação por falta de nutrientes.

Este medicamento não resulta para todas as pessoas, há ainda um enorme desconhecimento na forma como o cancro nasce se desenvolve e evolui... Para as pessoas comuns é por demais evidente que a medicina evoluiu muito no combate ao cancro, mas na prática a melhoria dos resultados deve-se essencialmente a dois fatores, a precocidade dos diagnósticos que aumentam muito a taxa de sucesso dos tratamentos e o aumento da esperança média de vida pois é sabido que em pessoais mais idosas a  evolução dos tumores é tão baixa que os doentes acabam por morrer de morte natural....

Os bloqueadores de angiogenese e em especial o sunitinib, embora não sejam quimioterapias, têm uma panóplia enorme de efeitos secundários que muitas vezes retiram toda a qualidade de vida dos pacientes. No meu caso, foram náuseas, tonturas, azia, pequenas hemorragias principalmente ao lavar os dentes, tive que mudar a pasta de dentes, a escova, etc... mas o pior mesmo foi as calosidades tóxicas dolorosas na base dos pés que me impediram algumas vezes de sair de casa... assim começou a minha nova vida!

Mas há que agir! as náuseas e as tonturas eram pior de manhã... mesmo com dores nos pés muitas vezes continuei a fazer as minhas caminhadas de sábado, arranjei palmilhas mais grossas, andei com sapatos maiores, tentei de todas as formas ultrapassar as limitações, mesmo quando fiquei em casa durante uma semana sem poder pousar os pés no chão... trabalhei por acesso remoto mas nunca deixei as minhas rotinas, muitas vezes levantava-me nauseado, com tonturas, cansado... sem vontade para nada mas obrigava-me a levantar... tomar um duche e ir trabalhar.... depois quando chegava ao escritório parece que o pior já tinha passado mas penso que era eu que me estava a habituar a viver com isto...

Quando nos encontramos nesta situação, numa primeira fase pensamos que é o fim, é como se fossemos morrer no dia seguinte, mas depois semana após semana descobrimos que ainda estamos vivos e que fazer? antecipar a morte? antecipar o sofrimento? não....há que viver, há que continuar... como se costuma dizer, quem não tem cão caça com gato.... não podemos continuar a fazer as coisas tal como fazíamos? paciência... fazem-se de outras formas... o importante é continuar a fazer porque se continuarmos as nossas rotinas, trabalho, hobbies, lazer.... ganhamos a sensação de pertencer ao mundo dos vivos..... e isso é tão importante nesta fase....

Foi difícil conviver com o sunitinib mas mesmo assim ainda resisti até Maio de 2017, altura em que a minha médica atual decidiu mudar para o pazopanib para que eu tivesse menos efeitos secundários e mais qualidade de vida, o que de facto e felizmente aconteceu....

A vida de um doente oncológico sem cura é como um corredor sem portas, não dá para virar para lado nenhum... também não dá para parar porque isso é antecipar a morte, então há que caminhar.. avançar em frente de cabeça erguida, ainda estamos vivos, celebremos!


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